O retrato diário das ruas de Araruama expõe, sem máscaras, uma gestão municipal que falha em garantir direitos básicos à população. O trânsito desorganizado não é apenas reflexo do aumento da frota ou de mudanças no perfil da cidade: é, sobretudo, consequência de omissão do poder público, que abdica de seu dever de ordenar, fiscalizar e proteger.
A presença quase invisível da Guarda Municipal — um efetivo de 260 agentes cuja atuação desperta mais dúvidas do que soluções — é sentida de modo ainda mais grave em frente às escolas municipais. Famílias, educadores e alunos são cotidianamente expostos à insegurança, na contramão de qualquer política de prioridade à educação e à infância. Alegar falta de pessoal, como fez o subsecretário Allan André Penha, é corroborar a precariedade administrativa. Se falta efetivo, faltou planejamento. Se falta planejamento, sobra desprezo pelas demandas da população.
O quadro se agrava no centro da cidade, onde até mesmo ao lado da própria cabine da Guarda Municipal se instauram irregularidades. O ponto de mototáxi, fruto da ausência de fiscalização, exemplifica como o descaso institucional permite que o espaço público seja apropriado sem critérios nem controle.
Espanta a naturalização de cenas como carros parados em vagas de idosos e deficientes, bicicletas e motos bloqueando veículos em estacionamentos públicos, motoristas ignorando sinalizações essenciais. O cidadão honesto, pedestre ou condutor que tenta cumprir as normas, sente-se desprotegido e impotente. E a sensação é de que a impunidade virou regra.
O secretário de segurança, Pedro Ivo, há seis meses no comando da pasta, ainda não apresentou respostas concretas à crise. O resultado é visível: caos, insegurança e a perda total da autoridade municipal sobre a cidade. Não se trata aqui de atacar nomes ou gestões, mas de cobrar políticas públicas responsáveis, fiscalização efetiva e compromisso real com o bem-estar coletivo.
A população de Araruama merece respeito. E respeito se traduz em ação, não em promessas vazias ou desculpas prontas. É hora de a prefeitura ouvir seu povo, admitir erros e agir antes que a desordem do trânsito se torne apenas o prenúncio de problemas ainda maiores.