Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de palavras de baixo calão, Dercy Gonçalves foi uma atriz, humorista e cantora brasileira reconhecida por suas marcantes atuações nas produções cinematográficas das décadas de 1950 e 1960. Durante mais de 80 anos de carreira, divertiu plateias de todo o país – e até do exterior. Rainha da comédia popular, do escracho e do improviso, estrelou inúmeras revistas musicais, atuou como produtora e foi presença constante na televisão brasileira.
Sua história teve início em Santa Maria Madalena, interior do Rio de Janeiro, em 23 de junho de 1907. Nascida Dolores Gonçalves Costa, enfrentou desde cedo o preconceito pela descendência negra, uma experiência que permeou seu início no meio artístico. “Eu tinha vontade de fazer aquilo que elas faziam no cinema, ser artista. Papai não deixava, mas eu disse: eu é que quero”, recordou Dercy, ao falar sobre suas inspirações e o desejo de superar obstáculos.
Pelos palcos do interior, Dercy construiu seu estilo irreverente, conquistando platéias em circos e teatros. A persistência e o carisma naturais fizeram com que ela alcançasse a célebre Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, centro do teatro musicado nas décadas de 1930 e 1940. Anos depois, já consagrada, iniciou carreira solo, revezando-se entre os palcos teatrais do Brasil e o cinema, especialmente em chanchadas e comédias.
Na televisão, brilhou como jurada em diversos programas e comandou sua própria atração, tanto na Globo quanto no SBT. Em 1991, foi homenageada como samba-enredo da Unidos do Viradouro, eternizando-se mais uma vez na história do Carnaval carioca ao desfilar, já octogenária, com os seios à mostra em um carro alegórico, símbolo de sua ousadia.
Em 2007, a cidade natal de Dercy celebrou o centenário daquela que se tornou sua filha mais ilustre, com grande festa. Foi também neste ano que a artista subiu ao palco pela última vez, estrelando a peça “Pout-PourRir”.
Dercy Gonçalves faleceu em 19 de julho de 2008, aos 101 anos, vítima de insuficiência respiratória, sendo sepultada no mausoléu que ela mesma mandou construir em sua terra natal. Sua trajetória e legado estão retratados no livro “Dercy, de Cabo a Rabo”, de Maria Adelaide Amaral, que inspirou a minissérie global “Dercy de Verdade”.
Mais que uma artista, Dercy Gonçalves foi símbolo de resistência, inovando a comédia nacional e eternizando seu nome como referência de talento, coragem e autenticidade.