Quando a crítica vem da oposição, o impacto é previsível. Mas quando ela vem de dentro da base, o sinal de alerta acende — e acende forte. Foi exatamente isso o que aconteceu na mais recente sessão da Câmara Municipal, quando o presidente da Casa, vereador Marciel Nascimento (PL), fez um discurso duro contra a gestão de segurança pública do governo Carlos Augusto (PL).
Marciel, que não é apenas aliado político, mas figura-chave dentro do Partido Liberal (PL) e da estrutura de governabilidade do prefeito, subiu à tribuna para dizer, sem rodeios, que “a tropa não respeita o secretário Carlos Menegasi” e que “falta comando na Guarda Municipal”. Em seguida, pediu abertamente a exoneração do secretário de Segurança, um movimento que raramente parte de dentro das fileiras governistas.
O vereador não poupou palavras ao descrever um cenário de abandono da fiscalização viária, aumento da violência e omissão do poder público diante do caos no trânsito. “A Guarda Municipal evaporou”, disse, lembrando que no início da gestão os agentes eram visíveis, atuantes e contavam com aprovação popular.
Esse tipo de desabafo público, vindo de alguém que está no núcleo político do prefeito, não é mero acaso ou impulso. Em política, raramente há improviso — especialmente quando as palavras são pronunciadas do alto da tribuna por quem preside o Legislativo. O gesto de Marciel pode ser lido como um recado: há descontentamento dentro da base, há quem sinta que a gestão perdeu o rumo em setores fundamentais, e há quem já queira se dissociar de uma imagem administrativa em queda.
O prefeito Carlos Augusto, até então acostumado a discursos de apoio irrestrito vindos da Câmara, agora precisa lidar com o incômodo de ouvir críticas públicas de um aliado que conhece bem os bastidores do governo. O episódio revela mais do que apenas uma divergência sobre segurança — revela um desgaste político que começa a transbordar das conversas reservadas para o microfone da tribuna.
Se o Carlos Augusto enxergar o discurso de Marciel apenas como uma “falha de comunicação interna”, estará subestimando o sintoma. O problema é maior: é o retrato de uma base rachando, de uma liderança que começa a ser questionada e de uma administração que, aos poucos, vai perdendo o controle narrativo sobre sua própria cidade.


