28 de outubro de 2025 - 15:41
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No Dia do Servidor, Rio das Ostras se vê entre promessas esquecidas e um prefeito que escolheu o silêncio

As cenas que tomaram as ruas de Rio das Ostras nesta quinta-feira (23) revelam mais do que um protesto. Mostram o cansaço de quem sustenta a máquina pública e recebe, em troca, descaso e silêncio. Servidores da saúde e da educação — pilares que mantêm de pé qualquer cidade — decidiram ocupar as praças porque já não encontram espaço dentro do próprio governo para serem ouvidos.

O prefeito Carlos Augusto, que em campanha prometeu valorização e escuta, hoje se esconde atrás de protocolos e justificativas. Garantiu repassar 100% do plano de saúde dos servidores, promessa que nunca saiu do papel. Três anos sem reajuste e uma rotina de insegurança e adoecimento ilustram uma gestão que parece ter esquecido o básico: que por trás de cada crachá, há um ser humano.

Na educação, o cenário é de retrocesso. Professores denunciam a tentativa de interferência direta do prefeito Carlos Augusto na escolha de diretores escolares, contrariando a lei e o princípio da gestão democrática — aquele mesmo que o próprio Carlos Augusto defendia quando era vereador e opositor da antiga administração. Ironia amarga: quem antes cobrava transparência e respeito ao funcionalismo agora é acusado de repetir exatamente as práticas que condenava.

Não é só a administração que dá sinais de esgotamento, mas a relação de confiança entre governo e servidor. Quando o poder público deixa de ouvir, ele se isola. Quando o prefeito prefere ignorar o clamor das ruas, distancia-se da realidade que deveria governar. O resultado está nas expressões dos trabalhadores, nas escolas tensas, nos postos de saúde sobrecarregados e na descrença que se espalha pela cidade.

As contradições não param por aí. Enquanto profissionais da saúde e da educação seguem sem reajuste, sem valorização e sem condições adequadas de trabalho, a Prefeitura acumula gastos milionários em áreas de prioridade duvidosa. A contratação de R$ 3,5 milhões por inexigibilidade com os Correios, sem licitação, causa espanto não apenas pelo valor, mas pela falta de explicação plausível. Antes disso, foram R$ 8 milhões em publicidade, R$ 20 milhões em eventos e outros R$ 31 milhões na varrição urbana — e, ainda assim, basta caminhar pela cidade para encontrar lixo acumulado, buracos no asfalto e serviços básicos em estado crítico.

A pergunta que ecoa entre os moradores é simples: onde estão as prioridades do prefeito Carlos Augusto?

Enquanto o orçamento público é drenado por contratos pouco transparentes, a população enfrenta filas intermináveis na saúde, escolas precárias e bairros abandonados. Rio das Ostras se afasta cada vez mais da imagem de cidade planejada e bem administrada que já teve — e vê sua população mergulhar em desalento.

Há uma contradição gritante entre passado e presente. O vereador combativo que denunciava abusos de poder e defendia a valorização do funcionalismo parece ter sido engolido pela engrenagem do próprio cargo. Hoje, suas antigas promessas circulam nas redes como lembrança de um tempo em que ele mesmo pedia coerência, ética e respeito ao dinheiro público.

O Dia do Servidor Público, a data que deveria celebrar o reconhecimento de quem faz a cidade funcionar, se transforma em símbolo de frustração. No fundo, o que esses trabalhadores pedem não é privilégio — é respeito, diálogo e dignidade.

A ausência desses valores compromete mais do que a moral dos servidores: compromete o futuro da própria cidade. Um governo que não ouve sua base mina a confiança de todos. E, quando o poder se fecha em silêncio, abre espaço para a indignação, que cedo ou tarde, volta às ruas — mais forte, mais ruidosa e impossível de ignorar.

Governar é administrar pessoas, não apenas planilhas. E, se há algo que o cenário atual de Rio das Ostras revela, é que não há orçamento capaz de comprar o silêncio de quem trabalha, luta e ainda acredita que a cidade pode ser melhor.

Nesse 28 de outubro, fica a pergunta que ecoa com desconforto: comemorar o quê, afinal?

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